A sobretaxa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto, tem causado preocupação entre os produtores de mel do Piauí. O Brasil é o maior exportador do produto no mundo, e parte significativa dessa produção é oriunda de apicultores piauienses, que podem ser diretamente afetados pela medida.

Uma das maiores empresas exportadoras de mel do país está sediada em Oeiras, no Piauí. O presidente do Grupo SAMA, Samuel Araújo, comentou os possíveis efeitos da taxação.

“O maior problema que a gente tem é o susto, né? A gente recebe 50% de sobretaxa em um produto nosso. Quem vai pagar é o cliente final, e isso compromete o preço dele. Isso acende vários alertas”, afirmou.

De acordo com Samuel, o primeiro impacto foi o cancelamento de embarques, embora os contratos tenham sido mantidos, já que as empresas ainda precisam manter estoques. A insegurança gerada é, segundo ele, o maior entrave para os produtores do estado.

O empresário ressalta que a cadeia produtiva é ampla e socialmente relevante, sendo sustentada majoritariamente por agricultores familiares.

“Nós somos abastecidos por pessoas da agricultura familiar, que basicamente compõem o setor de apicultura do Brasil. É uma cadeia de grande importância social, e está todo mundo apavorado”, relatou.

Mercado internacional e consumo interno

Samuel destacou que os Estados Unidos são o maior importador de mel do mundo, onde o produto tem grande aceitação, ao contrário do Brasil, onde o consumo ainda é reduzido.

“Existem outros mercados. Estamos presentes na Europa, América do Norte, Canadá, Oriente Médio e Ásia, mas são mercados menos atrativos, com condições de pagamento menos favoráveis”, explicou.

Ele finalizou apontando que o mel ainda circula pouco internamente, pois os brasileiros desconhecem os benefícios do produto. Segundo ele, cerca de 75% do mel produzido no país é exportado.

Primeira exportação para o Japão

Apesar das incertezas no mercado norte-americano, o Piauí celebrou recentemente a primeira exportação de mel da Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapi) para o Japão.

A operação marcou a entrada da agricultura familiar piauiense no mercado asiático, com o envio de 600 kg de mel para uma rede de cafeterias japonesas. A carga chegou a Tóquio em março e deve começar a ser comercializada a partir de agosto.

A iniciativa fortalece o trabalho dos agricultores familiares, responsáveis por mais de 90% da produção de mel no estado.

Com sede em Simplício Mendes, a Comapi reúne 295 apicultores de oito municípios da região. A cooperativa já exportava para países como Estados Unidos, Itália, França, Alemanha e Reino Unido.

Impacto no PIB

Apesar do receio entre os produtores locais, o impacto financeiro da tarifa americana sobre o Piauí é considerado um dos menores do país. De acordo com levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as perdas no estado somam R$ 32 milhões, valor inferior ao registrado em outras regiões nordestinas, como Bahia (R$ 404 milhões), Pernambuco (R$ 377 milhões) e Ceará (R$ 190 milhões).

O Piauí também aparece entre os estados brasileiros menos dependentes das exportações para os Estados Unidos. Apenas 3% das vendas externas piauienses têm os EUA como destino, índice semelhante ao de Tocantins. Roraima (0,3%), Mato Grosso (1,5%) e o Distrito Federal (2,6%) são ainda menos dependentes.

O levantamento da CNI mostra que, embora o impacto no Piauí seja limitado em termos financeiros, a apreensão dos produtores se justifica pelo risco à estabilidade de contratos, ao escoamento da produção e ao sustento das famílias envolvidas na cadeia da apicultura.

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