16 de setembro de 2025

Odilon Nunes: um pilar da historiografia piauiense

Historiador
Publicado há 7 horas

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Odilon Nunes (Fonte: Acervo da Coordenação de Registro e Conservação – CRC/SECULT)

Natural de Amarante, onde nasceu em 10 de outubro de 1899, Odilon José Nunes foi um dos maiores historiadores do Piauí, se não o maior deles. Autor de uma caudalosa obra, Odilon Nunes também dedicou sua vida ao magistério, sendo o fundador do Colégio Amarantino, em sua cidade natal, onde lecionou entre 1928 e 1932. Já em Teresina, continuou suas atividades docentes no Liceu Piauiense, Escola Normal, Ginásio Leão XIII e Escola Técnica de Comércio, também ocupou diversas funções na Instrução Pública. Do trabalho no magistério, veio a primeira obra do autor, O Piauí na História (1931), que apresentou elementos básicos da história e da geografia do Estado para o ensino primário.

A despeito do zelo pela docência, o maior interesse de Odilon Nunes foi a pesquisa. Embrenhado no Arquivo Público do Piauí (APP) desde os anos 1930, o autor desenvolveu a tarefa hercúlea de devassamento e sistematização de grande parte do material que ainda utilizamos para escrever sobre a história do Estado. No governo de Rocha Furtado (1947-1951), o historiador amarantino foi contratado como funcionário do APP, o que certamente facilitou a concretização de suas pesquisas. A profícua parceria de Odilon Nunes com Raimundo Nonato Monteiro de Santana e Monsenhor Chaves, sua participação no Centro de Estudos Piauienses (CEP), sua produção da revista Econômica Piauiense e os estímulos que recebeu durante o governo Chagas Rodrigues (1959-1962), constituem outros momentos importantes na construção intelectual do nosso autor.

Apesar de já ser conhecido e respeitado como historiador, Odilon Nunes consolidou-se como um dos principais pilares de nossa historiografia somente em meados dos anos 1970, quando o Plano Editorial do Governo Alberto Silva publicou a 2ª edição de sua obra magna, Pesquisas para a História do Piauí. Dividido em quatro volumes, o aludido livro foi resultado de uma vastíssima pesquisa sobre a história do Piauí, desde o século XVII até o final do século XIX. Nesta obra, o autor discorreu amplamente sobre temáticas consagradas na historiografia piauiense, como o devassamento do território (que o autor atribuiu ao bandeirante Domingos Jorge Velho), a pecuária, as lutas pela independência, a Balaiada e as disputas políticas locais.

Entre as teses construídas por Odilon Nunes em Pesquisas, figura com destaque a proposição do Estado como agente promotor da ordem e do desenvolvimento da sociedade. Esta interpretação, foi um aspecto fundamental para que o governador Alberto Silva incluísse as Pesquisas no Plano Editorial do Estado, uma vez que esta administração pautava-se numa perspectiva onde o Estado também era compreendido como uma força redentora, um agente que deveria construir uma identidade positiva do Piauí. As políticas culturais gestadas pelo governo, assim como as obras monumentais de infraestrutura, deveriam atender a este objetivo, daí a importância dos trabalhos de Odilon Nunes, que teve cinco livros incluídos no aludido Plano Editorial.

O 4º volume de Pesquisas, por exemplo, ilustra de forma cristalina a interpretação de Odilon Nunes sobre a história do Piauí. Neste livro, o autor evidenciou as disputas políticas na então Província do Piauí no século XIX.  Para o historiador amarantino, o ocaso do longo governo do Visconde da Parnaíba, que permaneceu no poder de modo intermitente entre 1823 e 1843, deu lugar a um período de lutas intestinas entre liberais e conservadores, fragilizando a administração e promovendo a desordem na província. Diferente de Alencastre, que descreveu o governo de Manoel de Sousa Martins como uma “página negra” na história do Piauí, o autor enfatizou o papel do Visconde como um grande construtor e mantenedor da ordem na sociedade piauiense. Para o historiador amarantino, Sousa Martins personificava este Estado forte e interventor, portanto, sua queda só poderia significar um retrocesso no que diz respeito à construção do Estado.

A tese de Odilon Nunes acerca do Estado relaciona-se a outro aspecto bastante presente em sua obra: o caráter pacífico e ordeiro do piauiense, característica que só era afetada pela introdução de elementos externos. O poder e a eficiência do Estado garantiam esta situação de concórdia e harmonia. Por isso, para o autor, nas regiões afastadas das teias do poder estatal, sobretudo nas zonas de fronteira, predominava o crime e a desordem gerais. A propalada condição de passividade do piauiense foi contestada por uma miríade de trabalhos desenvolvidos pela historiografia local nas últimas três décadas. Escravizados, vaqueiros, camponeses, operários, indígenas e uma série de outros sujeitos piauienses intervieram ativamente na construção de seus próprios destinos.

Mesmo quando criticada, a obra de Odilon Nunes constituiu um pilar incontornável para pensar os temas centrais da historiografia piauiense. Por isso, sua pertinência como leitura fundamental para qualquer indivíduo que se proponha a estudar e pesquisar nossa história. 

Odilon Nunes integrou diversas instituições científico-culturais, com destaque para o Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e a Academia Piauiense de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 34.

Ramsés Pinheiro
Historiador


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