"Ele morreu à míngua”, disse irmã de homem que faleceu com choque séptico no HUT

O homem de 35 anos ficou 10 dias internado na UTI do Hospital de Urgência de Teresina. Família falou sobre a falta de ar condicionado, medicamentos e higiene.

Irmã do paciente que morreu no HUT (Foto: Bruno do Carmo)

Malu Barreto e Bruno do Carmo
malubarreto@tvclube.com.br

A irmã de um paciente que morreu por possível falta de antibióticos no Hospital de Urgência de Teresina (HUT), narrou os dias em que o irmão esteve internado na unidade de saúde. Ela, que não quer se identificar, falou sobre a falta de ar condicionado e medicamentos no HUT e revelou que a morfina dada ao irmão, nos últimos dias de vida, foi comprada pela família.

“Uma pessoa doente, sem ar condicionado, sem remédio, sem os cuidados necessários, sem higiene, sem nada. Então, isso foi um assassinato, não foi uma morte. A gente perdeu uma pessoa da família da gente. Entendeu? E nunca mais ele vai voltar”, desabafou.

O homem de 35 anos estava internado havia pelo menos 10 dias, conforme documentos obtidos pela Rede Clube. A família contou que ele tinha sequelas de um acidente ocorrido em 2016, e que voltou ao hospital devido a um ferimento provocado por um furúnculo.

O paciente deu entrada na UPA do Dirceu, no dia 18 de fevereiro, e no dia 25 de fevereiro, foi transferido para o HUT, o óbito foi registrado nesta quinta-feira, 7 de março. Ele estava na Unidade de Terapia Intensiva do hospital.

Ele chegou a passar por cirurgia e limpeza do ferimento. Havia ainda recomendação de amputação da perna atingida pela lesão.

Na prescrição médica havia a observação de que, embora recomendado o tratamento com antibioticoterapia, o paciente não estava recebendo as medicações “por falta de opções no HUT”. (veja foto abaixo)

O documento faz referência à necessidade de medicamento para MRSA, sigla para Multiple-resistant Staphylococcus aureus. Resumidamente, um tipo de bactéria multirresistente a alguns tipos de medicamentos, sendo necessários antibióticos específicos.

(Foto: reprodução Tv Clube)

A família relatou que foi informada sobre a bactéria após o óbito. “Eles só falavam que a situação dele era delicada, que era em decorrência de um tipo de “nascida”, entendeu? Mas não falavam que era uma bactéria, que tipo de bactéria que era, que medicamento que ele estava tomando. Eles só falavam que era grave, falavam sempre da amputação, que ele teria que fazer, para tentar salvar ele”.

No dia 05 de março, os médicos solicitaram à família, três caixas de morfina, mas os parentes só puderam comprar uma caixa do medicamento, que foi levada para a unidade, no mesmo dia da solicitação.

Para a irmã, o sentimento que fica é de impotência; “Todo dia passava televisão a situação que estava lá [HUT] e a gente estava de mãos atadas, sem poder fazer nada por ele. Porque, claro, se eles tivessem falado que tivesse faltando alguma coisa para matar essa bactéria, a gente ia dar, a gente ia correr atrás. Levamos a morfina para ele, mas só Deus sabe, a quanto tempo ele estava sentindo aquela dor”.

O Hospital de Urgência de Teresina se manifestou sobre o caso por meio de nota e informou que está apurando o caso por comissões internas. O HUT disse ainda que em caso de “indisponibilidade pontual de alguma medicação no estoque da farmácia”, é possível a “substituição de tal medicação por outra, de igual classe e efeito similar, que se encontre disponível”.

Confira na íntegra da nota do HUT:

A Diretoria do Hospital de Urgência de Teresina Prof. Zenon Rocha – HUT, vem, através da presente nota se posicionar diante de fatos que têm sido veiculados na mídia.

De saída, esclarecemos que dados sensíveis específicos de qualquer paciente estão resguardados por sigilo médico, de modo que não podem ser divulgados, exceto para o próprio paciente, ou familiares, em caso de impedimento deste.

Todavia, cumpre mencionar que tanto esta diretoria, como a presidência da Fundação Municipal da Saúde, tem se empenhado diuturnamente para garantir que o maior hospital de urgência do Estado permaneça com estoques de medicações e insumos suficientes a atender a crescente demanda dos pacientes.

Informamos ainda que em caso de indisponibilidade pontual de alguma medicação no estoque da farmácia, o médico assistente, com o auxílio de uma comissão permanente constituída com tal fim (Comissão de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (CCIRAS), avaliam, de plano, a substituição de tal medicação por outra, de igual classe e efeito similar que se encontre disponível, de modo a garantir o atendimento integral ao paciente.

Tal prática corriqueiramente ocorre tanto nesta unidade de saúde, como nos demais hospitais da rede pública e privada. Pontuamos ainda que o Hospital possui todas as comissões técnicas necessárias para avaliação de qualquer evento adverso ou inconsistências dentro dos processos hospitalares de assistência ao paciente.

Registramos ainda o empenho e brilhantismo da equipe de profissionais que atua nesse hospital, que se dedica a prover o melhor atendimento possível aos pacientes, inobstante o enorme volume de pacientes graves e urgentes que são recebidos diariamente nesta unidade de saúde.

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