Mês da Consciência Negra: cresce o número de afro empreendedores no Brasil

Conforme um estudo do Sebrae, cerca de 15,2 milhões de donos de pequenos negócios se declaram pretos ou pardos.

Nordeste é a segunda região do Brasil com a maior proporção de microempresários que se declaram pretos ou pardos (Foto: Arquivo Pessoal)

Pedro Pires
pedropires@tvclube.com.br

Dados de um levantamento feito pelo Sebrae, em 2023, mostram que 52% dos empreendedores brasileiros são negros. Conforme o estudo, idealizado por meio de dados da Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios (PNAD), cerca de 15,2 milhões de donos de pequenos negócios se declaram pretos ou pardos.

Ainda conforme a pesquisa, o Nordeste é a segunda região do Brasil com a maior proporção de microempresários que se declaram pretos ou pardos, são 72%. Uma dessas pessoas é a trancista Raissa Maria, moradora da zona Sul de Teresina, ela trabalha no ramo desde 2021.

Ao Portal ClubeNews, Raissa revelou que nunca teve vontade de trabalhar de carteira assinada e sempre buscou empreender, mas foi algo que aconteceu de fato durante o período de pandemia, em 2021.

“Eu tinha o desejo de fazer tranças em mim, até hoje não aprendi, mas comecei a estudar e fazer meus trabalhos nas modelos. Depois disso começaram aparecer clientes, a partir daí eu vi que com esse trabalho eu conseguiria faturar um dinheiro. O trabalho tem dado certo, mas precisa ter muita determinação e perseverança, porque em vários momentos já pensei em desistir, até o lucro começar a aparecer é um processo de muito investimento no negócio. Mas sigo firme, quero aperfeiçoar o estúdio que já conquistei e investir cada vez mais nesse ramo”.

Raissa Maria resolveu empreender em 2021 (Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo a trancista o preconceito ainda existe nessa área, mas a capacidade de ajudar mulheres a se sentirem mais emponderadas traz a satisfação de dever cumprido.

“Infelizmente ainda existe preconceito com quem usa trança, dizem que somos pessoas que não lavam o cabelo, que são usuárias de drogas, isso é pior com os dreads, um estilo de cabelo ainda mais estereotipado. Mas o sentimento de mudar o visual de mulheres negras supera esse preconceito, é muito gratificante ver o sorriso no rosto delas depois que eu termino o trabalho. Isso é muito importante porque muitas delas são trabalhadoras que recebem o salário mínimo, estão naquela luta diária, mas separam um dinheirinho para ter esse momento especial de beleza”, contou.

Também foi o desejo de trabalhar por conta própria que fez a confeiteira Sheridan Oliveira começar a investir no ramo da confeitaria. Ao Portal ClubeNews ela relata que o preconceito por trabalhar no ramo da alimentação ainda existe.

“Infelizmente ainda vivemos numa sociedade onde somos avaliados pelo exterior/imagem. Acontece muito de acharem que pelo fato de trabalhar com algo simples, não temos estudos, não sabemos conversar sobre determinados assuntos, somos alguém que está apenas em uma cozinha. Somos muito subestimados por não estarmos sempre elegantes ou pelo nosso trabalho não parecer tão elitista”, comentou.

Confeiteira Sheridan Oliveira (Foto: Arquivo Pessoal)

Sheridan explicou que um dos seus maiores sonhos, que pretende realizar, é a construção de uma confeitaria física, para receber clientes e amigos. Ela ainda disse que é muito especial participar de momentos tão íntimos das famílias, adoçando comemorações especiais.

“Sempre digo que participar de momentos tão íntimos das pessoas é muito especial. Isso nos faz estreitar os laços com aquelas pessoas ou famílias. É algo que esquenta o coração, traz muita emoção. Me sinto privilegiada!! E quando o feedback é positivo, dá o sentimento que estou no caminho certo, que mesmo podendo estar num caminho diferente ou financeiramente mais estável estar na confeitaria, partilhar momentos especiais, passar amor em cada trabalho não tem preço, é um sentimento imensurável. Não trocaria o que faço por nada”, explicou.

Professora e contadora Fátima Ribeiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Conforme a professora, educadora financeira e contadora, Fátima Ribeiro, o afroempreendedorismo no Brasil tem crescido. Mas o movimento exige coragem e resiliência dos empreendedores.

“Nos próximos anos, acredito que o afro-empreendedorismo terá um papel essencial na transformação da economia e da sociedade brasileiras, trazendo mais inclusão, diversidade e inovação. Vejo um futuro de oportunidades crescentes e mais equidade, mas acredito que essa transformação exige persistência, educação e apoio sistêmico. Para nós, enquanto educadores e mentores, o papel de orientar, apoiar e inspirar é mais essencial do que nunca”, ressaltou.

A professora explica que esse é o momento de preparar o caminho para criar uma economia mais justa, diversa e, acima de tudo, inclusiva.

*Estagiário sob a supervisão da jornalista Malu Barreto 

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