Thálef Santos*
thalefsantos@tvclube.com
O número de assassinatos de pessoas trans e travestis é o maior desde 2008 no Brasil. Segundo o relatório de 2021 que monitora dados globalmente levantados por instituições trans e LGBTQIA+, 70% de todos os assassinatos registrados aconteceram na América do Sul e Central, sendo 36% apenas no Brasil.
Apesar da transfobia ser considerada crime, o Brasil é o país que mais mata trans e travestis no mundo pelo 13º ano consecutivo. De 2008 até 2021 mais de quatro mil pessoas trans foram assassinadas.
Josiane Borges é gerente de enfrentamento à LGBTfobia no estado do Piauí e diz que a luta dessa população é diária para conquistar respeito e dignidade. “É por isso que lutamos todos os dias, para fazermos do Brasil um território livre da discriminação e do preconceito”, afirma.
A primeira advogada trans do Piauí, Flávia Cunha, afirma que a maior dificuldade encontrada foi o uso do nome social desde a faculdade. Apesar das dificuldades, ela diz que percebe uma mudança: “a conscientização da população tem sido muito mais extensa. Ela tem procurado, ao contrário de outrora, se conscientizar, tomar conhecimento e procurar saber pra não errar e não falhar”.
O advogado, homem trans, Miguel Cardoso, afirma ter sido entristecedor a quantidade de problemas e burocracia para retificar seu nome na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Foi na OAB que eu sofri o maior constrangimento da minha vida em questão de respeitar meu nome, meu gênero e minha sexualidade.”
“Nós queremos direitos iguais, equidade. Queremos amar da mesma forma que todos vocês amam. Queremos trabalhar e queremos respeito!”, finaliza Miguel Cardoso.
Alvos da criminalidade
Apesar do debate em alta e as vereadoras trans eleitas em 2020, a maioria da população trans do Brasil continua vivendo em vulnerabilidade. Bruna Benevides, uma mulher trans, fez uma pesquisa sobre essa violência no país.
Um dossiê realizado pela pesquisadora aponta que em 2021, 140 pessoas transexuais foram assassinadas no país. Deste total, 135 foram mulheres e travestis e 5 foram homens.
Apesar de falta de dados oficiais. Bruna realizou a pesquisa com base em informações encontradas em órgãos públicos, organizações não-governamentais, reportagens e relatos de pessoas próximas das vítimas.
No último domingo (23), a travesti Paulinha, de 31 anos, foi brutalmente assassinada a pedradas e facadas em Timon. O caso é um alerta de que a caminhada ao reconhecimento apesar de iniciada ainda tem um longo caminho a percorrer e a população trans deve continuar mantendo sua cautela.
“Quem fez isso eu acho que tava com muita vontade de assassinar ela. Nunca vi uma coisa parecida com essa”, disse o tio da vítima, Francisco das Chagas Alves Pereira. Ele ainda afirma que a sobrinha era conhecida por ser uma pessoa pacata e trabalhadora.
Crimes de ódio
Os casos de assassinato a essa população chamam atenção pelo requinte de crueldade. Além dos casos em que pessoas trans são queimadas ainda vivas, os casos registrados por Bruna em seu dossiê relatam uso de arma de fogo ou arma branca. Espancamento, apedrejamento e estrangulamento foram os métodos utilizados em casos sem registro de armas.
Ambulatório exclusivo
Neste dia de mobilização nacional contra a transfobia, o Portal ClubeNews lembra que a população trans tem atendimento exclusivo e muitas pessoas ainda desconhecem a existência do serviço.
Em casos de urgência, ao solicitar o atendimento exclusivo a pessoa socorrida será encaminhada ao ambulatório trans do Hospital Getúlio Vargas (HGV). O ambulatório foi inaugurado em 2020, e homenageia a jovem assassinada no dia 18 de julho de 2014, na capital. O júri do caso foi o primeiro do estado por motivações homofóbicas.
*Sob supervisão da jornalista Lucy Brandão
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