De desavenças familiares, passando pelo incômodo com o choro de uma criança até a morte de duas pessoas da mesma família. A tragédia que aconteceu dentro de uma casa no bairro São Pedro, na zona Sul de Teresina, chocou o estado do Piauí, no último sábado (30).

A discussão que terminou em morte envolveu os cunhados Daniel Flauberth Gomes Nunes Leal e Felipe Guimarães Martins Holanda. Eles não resistiram aos ferimentos de arma de fogo e morreram no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). Na briga, uma mulher que prestava serviços domésticos para a família ficou ferida e continua internada em estado grave.

A dinâmica do crime ainda é incerta e várias versões já foram apontadas. O Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) está investigando o caso e deve concluir o inquérito o mais rápido possível.

Os laudos cadavéricos vão ajudar a esclarecer o cenário do crime, inclusive quem atirou em quem confirmando a cronologia dos  disparos.

TROCA DE TIROS 

A troca de tiros na casa da família aconteceu na manhã do dia 30 de julho de 2022.  Felipe foi atingido na região inguinal, na altura da virilha, e perdeu muito sangue.

Já Daniel e Juliana ficaram feridos com disparos na cabeça. “O legista vai nos dizer a posição de cada um e o ângulo de entrada de cada projétil”, diz o delegado Francisco Costa, o Barêtta, coordenador do DHPP.

Todos os feridos foram encaminhados ao Hospital de Urgência de Teresina pelas equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

O delegado comentou que as equipes do DHPP apreenderam as armas de fogo que estavam em uma das casas.

As armas pertencem ao Daniel, que possui registro de CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). Ele tinha três armas de fogo em casa. A informação inicial é de que apenas uma arma foi usada no crime. Ele era instrutor de tiros.

Felipe era coordenador Judiciário Criminal do Tribunal de Justiça do Piauí.

MORTES

O primeiro a não resistir aos ferimentos foi Felipe, que morreu durante procedimento cirúrgico no HUT, na noite de sábado (30). O disparo na região da virilha fez com que ele perdesse muito sangue.  Daniel faleceu na madrugada do dia 31 de julho, também no HUT.

O corpo de Felipe foi sepultado na tarde do dia 31 de julho no Jardim da Ressurreição, na zona Sudeste de Teresina. Já o enterro de Daniel acontece nesta segunda (1º de agosto) no mesmo local.

EMPREGADA 

A emprega doméstica, Juliana da Silva, continua internada em estado grave no HUT.  Segundo o delegado Barêtta, ela estava em outro cômodo da casa quando foi atingida pelo disparo, que transpassou uma porta.

Inicialmente, a informação era de que a empregada foi atingida ao se aproximar de Daniel e Felipe. Outra informação era de que ela tentava proteger a criança, que chorou na noite anterior ao crime.

“Segundo consta, houve um disparo de dentro da casa, ainda de dentro para fora, que transfixou a porta e foi se alojar na cabeça da moça, da Juliana, que está internada em estado grave”, diz.

LUTA CORPORAL 

Antes dos disparos, Daniel e Felipe entraram em uma luta corporal, “coadjuvado pela esposa do Felipe que também participou”, revela Barêtta.

Já a esposa de Daniel, que é irmã de Felipe, estava na casa no momento da discussão, mas deixou a residência durante o tiroteio.

O MOTIVO? CHORO DA CRIANÇA 

Até o momento, a informação inicial é de que o choro do filho do Felipe, uma criança de 5 anos,  teria incomodado Daniel, sendo esse o estopim para a discussão entre eles antes dos tiros.  A criança, diferente do que noticiaram inicialmente, não tem, ainda, transtorno do espectro autista confirmado por diagnóstico.

“Nenhuma vez a criança foi o alvo. A gente não pode chegar a um extremo desse; o choro da criança, se é que teve isso, foi apenas um estopim que já havia sendo alimentado, talvez um ranço pelas partes para chegar a um fato desse. A discussão iniciou na sexta, segundo consta, o choro da criança (filha do Felipe) incomodou o Daniel. O pai quando tomou conhecimento não gostou; de manhã (no sábado), ele foi lá, quando a mulher do Daniel abriu a porta, ele (Felipe) estava lá aguardando ele (Daniel)”.

DINÂMICA DO CRIME, ATÉ O MOMENTO, SEGUNDO DELEGADO BARÊTTA: 

– O desentendimento começou na sexta-feira (29), quando o Daniel ficou incomodado com o choro da criança, que é filha do Felipe. O Daniel é casado com a irmã de Felipe.

– Todos os envolvidos moram no mesmo terreno, que possui três casas: uma do pai de Filipe e Lorena, uma do Felipe e uma da Lorena (irmã de Felipe e esposa de Daniel). A casa está localizada no bairro São Pedro, na zona Sul de Teresina.

– No dia seguinte, na manhã de sábado (30),  por volta das 8h, quando a mulher do Daniel abriu a porta da casa, viu que o Felipe estava sentado em uma área, que é comum a todos da residência, com uma faca, e disse que estava aguardando o marido dela (o Daniel).

–  A irmã de Felipe ela pediu calma, segundo ela declarou ao DHPP, mas ele estaria muito exaltado.

– “Nesse meio tempo, o Daniel ia saindo, ela foi ao encontro dele, botou ele para dentro e fechou a porta da casa. O Felipe começou a chutar a porta no sentido de arrombar para entrar. Nesse momento, o Daniel pega uma uma arma, uma pistola 380, e efetua um disparo de dentro para fora, o projetil transfixou a porta e foi se alojar na cabeça da moça que estava na área com as crianças”, disse o delegado.

– “Depois teve uma luta corporal entre o Daniel e o Felipe, coadjuvado pela esposa do Felipe. Foi feito o levantamento pericial, com mancha de sangue, local dos estojos, no sentido de que o perito nos forneça toda a dinâmica do fato em si, bem como o legista nos informar a trajetória dos projéteis para a gente saber quem atirou em quem, a altura em que estava e o movimento que fizeram”.

– A esposa do Daniel, que é irmã do Felipe, estava na casa no momento da discussão, mas deixou a residência durante o tiroteio. “Ela disse que pegou a filha que estava brincando em um patio (comum entre as casas) e já achou a juliana caída. Quando chegou no portão, já na rua, ouviu mais dois disparos”.

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